A natureza das multidões segundo Gustave Le Bon

Sumário

1. Introdução 🍎
2. A natureza das multidões 🌐 2.1 Transformação psicológica do indivíduo na multidão 2.2 Papel das ideias na influência das multidões 2.3 Sentimento religioso nas multidões 2.4 Benefícios psicológicos e emocionais de fazer parte de uma multidão
3. Líderes e suas influências nas multidões 👑
4. Simplificação das ideias para a compreensão das multidões 4.1 A importância dos líderes na comunicação de ideias 4.2 Manipulação das ideias pelos líderes
5. A relação religiosa das multidões com as ideias 5.1 Mesmo sem componentes religiosos explícitos, as multidões desenvolvem uma relação religiosa com as ideias que as motivam 5.2 A ameaça do fanatismo em multidões ateias
6. Moralidade e imoralidade das multidões 🤕 6.1 Explicação para as ações imorais das multidões 6.2 A liberação dos instintos primitivos na multidão 6.3 Inferioridade moral e intelectual do indivíduo na multidão
7. O alívio da responsabilidade e o poder temporário na multidão
8. O indivíduo como parte de uma multidão 🤲 8.1 A influência das ideias e ideologias na motivação do indivíduo 8.2 Busca pela liberdade e independência intelectual

Introdução

No campo da filosofia, o estudo da natureza das multidões tem despertado grande interesse ao longo dos séculos. No entanto, foi durante os séculos XVIII e XIX que um maior destaque foi dado à compreensão da psicologia das multidões. Diversos pensadores, como Rousseau e Gustave Le Bon, dedicaram-se a investigar as peculiaridades e características das multidões, bem como o papel das ideias na influência e transformação do indivíduo quando inserido em um grupo coletivo. Neste artigo, faremos uma análise do trabalho clássico de Le Bon sobre a psicologia das multidões, explorando suas descobertas sobre a natureza, as influências e os efeitos psicológicos das multidões.

A natureza das multidões

Transformação psicológica do indivíduo na multidão

De acordo com Le Bon, quando um indivíduo se une a uma multidão, ele passa por uma transformação psicológica profunda. Ele deixa de agir como uma pessoa individual e se torna um autômato, guiado pelas emoções e influências do grupo. Nesse estado, o indivíduo deixa de viver para si mesmo e se torna um peão, disposto a sacrificar seus próprios interesses pessoais em favor dos interesses coletivos da multidão. Tal transformação é marcada pela contagiante influência do grupo, onde sentimentos e ações se propagam rapidamente, levando o indivíduo a tomar atitudes que ele jamais tomaria isoladamente.

Papel das ideias na influência das multidões

As multidões são unidas por uma ideia, crença ou ideologia em comum. No entanto, Le Bon argumenta que essas ideias não são escolhidas por meio de um processo de raciocínio lógico ou exame de evidências, mas sim aceitas superficialmente e utilizadas como combustível para a ação revolucionária. Essas ideias influentes são criadas por indivíduos geniais, pois os membros das multidões, por natureza, possuem capacidades intelectuais limitadas para compreender tais ideias em sua forma original. Para que uma ideia possa unir e influenciar uma multidão, ela precisa ser simplificada e transformada em uma forma acessível à inteligência das massas. No entanto, mesmo que uma ideia tenha começado grandiosa e verdadeira, ao ser compreendida pelas multidões, é privada de grande parte de sua grandeza e essência.

Sentimento religioso nas multidões

Le Bon argumenta que, mesmo quando as ideias que motivam as multidões não possuem um componente religioso explícito, as multidões desenvolvem uma relação religiosa com essas ideias. Isso acontece quando um indivíduo dedica todos os recursos de sua mente, submissão de sua vontade e fanatismo em prol de uma causa ou de um líder. Nessa relação religiosa com as ideias, um indivíduo não é religioso somente quando adora uma divindade, mas também quando coloca todas as suas energias e devoção em serviço a uma causa ou a um indivíduo que se torna o objetivo e guia de seus pensamentos e ações.

Benefícios psicológicos e emocionais de fazer parte de uma multidão

Le Bon ressalta que fazer parte de uma multidão oferece benefícios psicológicos e emocionais para o indivíduo. Quando vive sua vida como um indivíduo, o ser humano muitas vezes carrega o peso de suas responsabilidades e uma sensação de impotência. No entanto, ao se juntar a uma multidão ou movimento coletivo, o indivíduo se liberta temporariamente dessas responsabilidades e da sensação de impotência, sentindo-se capaz de derrubar os pilares do mundo. Essa libertação ocorre porque, na multidão, as pessoas consideradas tolas, ignorantes e invejosas se sentem livres da insignificância e impotência que experimentam individualmente, sendo dominadas pela noção de força bruta, porém temporária, mas imensa.