Levinas: A Ética da Alteridade
Visão Geral dos Conceitos de Totalidade e Infinitude na Filosofia de Levinas
Neste artigo, exploraremos os principais conceitos apresentados por Emmanuel Levinas em sua obra seminal "Totalidade e Infinito". Levinas propõe uma reorientação da filosofia, afastando-a da totalidade e priorizando a infinidade e a ética. Ele argumenta que a filosofia tradicional tem se concentrado na totalização, na busca por respostas universais sobre o sentido da vida, o ser e a existência. No entanto, Levinas considera que essa abordagem falha ao negligenciar a diferença radical do outro e, em vez disso, foca no mesmo, no eu, na ontologia.
Sumário
- Introdução
- A problemática da totalidade em filosofia
- Reorientando a filosofia para a infinidade
- Ética como prioridade da filosofia
- O outro como radicalmente diferente
- A face como figura do infinito
- A relação erótica com o outro
- A ética da alteridade
- Responsabilidade como relação com o outro
- A transcendência absoluta do outro
- Críticas e reflexões adicionais
- Gênero e a perspectiva masculina
- Conclusão
Introdução
Quando refletimos sobre as principais preocupações da filosofia, comumente surgem questões relacionadas ao sentido da vida, existência e substância. Emmanuel Levinas, no entanto, argumenta que a persistência dessas categorias é um sinal de que a filosofia seguiu um caminho equivocado. Ao longo de sua história, a filosofia tem se concentrado na busca pela totalidade, na tentativa de entender o sentido da vida e sistematizá-lo de forma universal e eterna. Para Levinas, essa abordagem está equivocada, pois se concentra no que ele chama de "mesmo", seja o sujeito, o eu, a vida ou a intencionalidade, presentes na fenomenologia. Buscar compreender o mundo a partir de uma perspectiva em primeira pessoa e enquadrá-lo em uma totalidade é algo que, segundo Levinas, está totalmente errado, pois nos leva a uma obsessão pela mesmice, a qual ele associa à totalidade e à ontologia, o estudo do ser.
A problemática da totalidade em filosofia
Para Levinas, a filosofia tem historicamente se concentrado na busca pela totalidade em detrimento da alteridade e da ética. Esse enfoque na totalidade, no mesmo, tem sido resultado da tentativa de explicar o mundo e compreendê-lo completamente. No entanto, para Levinas, esse caminho é equivocado, pois coloca a ênfase em categorias que são limitantes e reduzem a compreensão do outro como algo radicalmente diferente. A busca pela totalidade é uma busca por explicações universais e imutáveis, o que não leva em consideração a infinitude do outro e a singularidade de sua existência.
Reorientando a filosofia para a infinidade
Levinas propõe uma reorientação da filosofia, afastando-a da totalidade e direcionando-a para a infinidade. Para ele, a filosofia deve priorizar a ética em vez da ontologia, considerando a ética como o cerne da filosofia. A ética nos permite nos orientar em relação ao que é radicalmente outro, transcendente e além do nosso alcance. Ao pensarmos nos outros, tendemos a pensar em seres semelhantes a nós mesmos. No entanto, Levinas argumenta que essa noção de ética baseada em empatia é equivocada, pois o outro é algo radicalmente além do nosso alcance. Para Levinas, o outro é associado à infinidade, abrangendo uma perspectiva que vai além da nossa compreensão.
Ética como prioridade da filosofia
Levinas propõe que a ética seja a primeira e principal preocupação da filosofia, rompendo com a tradição filosófica que considera a metafísica ou a ontologia como a primeira filosofia, relegando a ética a um papel secundário. Nessa perspectiva, a ética não se trata de tomadas de decisões racionais ou ponderação de opções de forma abstrata. Também não se trata de relacionar-se com outros seres por meio de semelhanças, como mencionado anteriormente. A ética, para Levinas, trata-se de responder ao outro.
O outro como radicalmente diferente
Segundo Levinas, o outro é algo radicalmente além do nosso alcance, separado e estrangeiro a nós. O outro surge de um lugar além da nossa própria perspectiva do mundo, e jamais poderemos compreender por completo o ponto de vista do outro. Assim, tentar nos colocar no lugar do outro é equivocado na perspectiva de Levinas. Em vez disso, a ética consiste em responder ao outro à medida que ele se apresenta, como uma perspectiva sobre o mundo que nunca poderemos acessar diretamente. Devemos tratar o outro como outro, sem presumir qualquer experiência compartilhada. Levinas propõe que, ao nos relacionarmos com o outro, devemos reconhecer sua alteridade irreduzível.
A face como figura do infinito
Levinas utiliza frequentemente a metáfora do rosto para descrever o outro como figura da infinidade. Ao falar do rosto, Levinas não se refere apenas aos olhos, nariz ou boca, mas sim ao que nos é apresentado e ao qual devemos responder. Ele utiliza metáforas como a viúva ou o órfão para descrever o rosto, por exemplo. Para Levinas, o rosto fala comigo e, dessa forma, me convida a uma relação que vai além do exercício de poder, seja na busca pelo prazer ou pelo conhecimento. Assim, o rosto é a figura da infinitude do outro, daquele que é absolutamente outro.
A relação erótica com o outro
Outro tema importante na concepção de alteridade de Levinas, amplamente abordado em "Totalidade e Infinito", é o do amor erótico. Ele argumenta que a relação erótica com o outro é onde a alteridade se manifesta de forma mais saliente. O desejo que sentimos nessa relação nos revela a alteridade do outro de maneira fundamental. Segundo Levinas, o desejo erótico orienta-nos essencialmente para a alteridade do outro. O desejo não é mais mero desejo se o outro for apreendido ou capturado. Há algo essencialmente intocado, além do nosso alcance, no desejo erótico pelo outro.
A ética da alteridade
Levinas propõe uma ética da alteridade, também conhecida como ética da resposta, em que a responsabilidade é entendida como uma relação com o outro, como um outro absoluto (tout autre). A ética de Levinas considera a relação com o outro como algo que está além do nosso entendimento e controle. Para ele, a alteridade do outro é absoluta e não pode ser reduzida a uma revelação ou divulgação. Levinas argumenta que a filosofia tem falhado em reconhecer a irredução da alteridade, resultando em uma impossibilidade de uma ética que possa conceber a responsabilidade como uma relação com o outro.
Responsabilidade como relação com o outro
Para Levinas, a responsabilidade emerge a partir da relação com o outro, com aquele que é absolutamente outro e que não pode ser assimilado por meio do nosso entendimento ou controle. Ser responsável significa estar em relação com algo que é radicalmente outro, algo que está além do nosso alcance. A ética da alteridade proposta por Levinas desafia a concepção tradicional de ética como baseada em um eu autônomo e racional. Em vez disso, a ética é definida pela relação com o outro antes mesmo de qualquer consideração racional ou autônoma.
A transcendência absoluta do outro
Levinas destaca a transcendência e a altura do outro como características fundamentais. O outro é algo que está além da nossa apreensão, ultrapassa a nossa compreensão do infinito. A própria ideia de infinito é prova da exterioridade absoluta do outro e de sua alteridade. Levinas reconhece que a filosofia tem se baseado em uma busca pela totalidade, reduzindo o outro ao mesmo. No entanto, ele enfatiza que o objetivo da filosofia é apreender o outro como genuinamente outro, sem tentar reduzi-lo a nossas categorias de semelhança. Portanto, para Levinas, a alteridade não é qualitativa nem quantitativa, e a ética implica em reconhecer e responder à exterioridade absoluta do outro.
Críticas e reflexões adicionais
Apesar da relevância das contribuições de Levinas, é importante considerar algumas críticas e reflexões adicionais. Por exemplo, a perspectiva masculina presente em sua abordagem do eros e da figura do outro como totalmente outro tem sido objeto de críticas feministas. Além disso, a tradução da obra de Levinas pode apresentar algumas inconsistências, o que pode afetar a compreensão de suas ideias.
Conclusão
Em "Totalidade e Infinito", Levinas apresenta uma visão inovadora da filosofia, propondo uma reorientação baseada na prioridade da ética e na alteridade do outro. Ele destaca a importância de reconhecer a infinitude do outro e responder a essa alteridade de forma responsável. Levinas nos leva a repensar a relação entre mesmo e outro, rompendo com a busca pela totalidade e enfatizando a transcendência absoluta do outro como fundamento para uma ética da alteridade.